Todo mundo estuda sobre as milhares de mortes de judeus, durante o
Nazismo alemão, mas pouca gente conhece um dos episódios negros na
história brasileira. Esse capítulo obscuro de nossa trajetória, aliás,
aconteceu em Barbacena, em Minas Gerais, no início do século 20.
Tudo teve início quando a cidade recebeu um manicômio de grandes
proporções, em 1903, que ficou conhecido como Colônia. Segundo contam, o
lugar levou este nome por ter abrigado atos de crueldade parecidos com
os que aconteceram na Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra
Mundial. Há registros de que, pelo menos, 60 mil pessoas morreram nesse
“hospital”.
Isso porque seus “pacientes” eram largados no pátio do hospício, sem
roupas, sem água potável e com comida escassa. Á noite, devido a
superlotação – que chegou a abrigar 5 mil pessoas de uma só vez,
enquanto sua capacidade original era para 200 pacientes -, os internos
eram reunidos às centenas, em quartos onde praticamente não existiam
camas ou cobertores.
De acordo com o livro-reportagem de Daniela Arbex, recentemente lançado sobre o assunto, o desespero nesse lugar era tamanho, que as pessoas se alimentavam com o que achavam, incluindo ratos e pombas vivas. Além disso, era comum o consumo de esgoto e da própria urina, devido à sede com a qual as pessoas eram obrigadas a conviver. Também não havia nenhuma privacidade e as necessidades fisiológicas eram feitas entre os demais, no meio do pátio, pelo menos até 1979.
Em média, 16 pessoas morriam todos os dias nesse lugar. Aliás, os
administradores do hospício lucravam com a morte. Há indícios de que os
corpos dos pacientes eram vendidos por até 600 mil reais para as
universidades. Conforme a autora do livro, entre 1969 e 1980, em médi,
1853 corpos foram comercializados.
Além disso, eram comuns torturas e abusos (sexuais) aos internos.
Camisas de força e choques elétricos também faziam parte da rotina, sem
qualquer prescrição médica. Mas o pior de tudo é que nem sempre as
pessoas que iam para o manicômio de Barbacena haviam realmente perdido a
consciência. Registros mostram que adolescentes grávidas, pessoas
perseguidas pelas autoridades da época e uma série de outros casos
“indesejáveis” socialmente eram enviados ao hospital, onde quase todos
acabaram sendo esquecidos até a morte.
A situação do lugar só foi descoberta em 1961, quando uma reportagem
da extinta Revista Cruzeiro denunciou o hospício. Mas, na época, nada
foi feito para mudar os costumes do lugar. Somente com a reforma
psiquiátrica, já na década de 70, que as práticas do hospital foram
sendo alteradas e humanizadas. Hoje ele continua aberto, mas em nada se
parece com o lugar que um dia foi responsável pelo holocausto de
milhares de brasileiros inocentes.
Fonte: Fatos Desconhecidos